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Exposição
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©2023 - 4ART Produções Culturais
A iniciativa do Farol Santander Porto Alegre traz de volta ao cenário cultural a variada obra de Athos Bulcão, um artista que atravessou o século sempre empolgando o público e os críticos.
O Ministério da Cultura e Santander apresentam a exposição Athos Bulcão, que trás pela primeira vez esse renomado artista a Porto Alegre, conhecido pela diversidade de sua obra e inegável importância histórica e cultural. A mostra apresenta no Farol Santander mais de 200 obras do mestre.
A exposição oferece um panorama cronológico da trajetória do artista no Brasil e exterior, desde sua inspiração inicial pela azulejaria portuguesa, seu aprendizado sobre utilização de cores – quando foi assistente de Portinari – até as duradouras e geniais parcerias com Niemeyer e João Filgueiras Lima, o Lelé, que resultaram num importante legado arquitetônico e artístico.
Um importante aspecto que será oferecido ao público é a interatividade, inerente ao caráter urbano e democrático da obra pública deste artista.
Com esta proposta, o Santander fortalece seu compromisso com a formação de público para as artes visuais e com a promoção do acesso à cultura, além de valorizar a produção artística nacional para clientes e sociedade.
André Severo e Marília Panitz
Concebida em 2018 como parte das comemorações do centenário de nascimento de Athos Bulcão, a exposição 100 anos de Athos Bulcão propõe-se a contextualizar a obra e trajetória do artista, colocando lado a lado trabalhos produzidos em períodos distintos de sua vida e estabelecendo novos vínculos entre os diversos segmentos de sua produção multifacetada.
Artista essencial para uma compreensão mais abrangente do contexto da arte brasileira do século 20, o trabalho de Athos Bulcão abriu caminhos na arte moderna do país. Sua produção insular, tangente a um número significativo de movimentos artísticos, faz dele uma figura sem paralelos, cujo trabalho segue ainda reverberando na produção de artistas jovens que, em suas poéticas, desdobram questões propostas pelo artista ao longo de sua trajetória.
Considerando que o legado de Athos Bulcão tem suas raízes mais profundas em Brasília, a mostra no Farol Santander Porto Alegre busca não somente apresentar a poética do artista para o público do Rio Grande do Sul, mas também incluir o estado na ampla discussão nacional – iniciada por ocasião das comemorações do seu centenário – sobre a importância e reverberação da obra de Athos Bulcão nos discursos atuais sobre abstração, figuratividade, desenho, pintura e integração entre arte e arquitetura.
Com aspecto retrospectivo, o recorte expositivo apresenta trabalhos que vão desde os anos 1940 até a morte do artista, em 2008 – incluindo desenhos, pinturas, objetos e, principalmente, estudos e projetos –, além de recriações de obras concebidas originalmente para contextos arquitetônicos específicos.
Contando com o acervo da Fundação que leva seu nome, a mostra apresenta ao público um recorte panorâmico do percurso de Athos Bulcão – pontuado através de uma estrutura curatorial que busca dar ênfase tanto à construção poética absolutamente pessoal desenvolvida pelo artista quanto ao período que marca seu envolvimento com a criação do projeto modernista brasileiro.
Combinando o viés cronológico com aproximações temáticas, 100 anos de Athos Bulcão aposta nos vínculos, mais ou menos evidentes, entre diferentes momentos da trajetória do artista e estrutura-se, inicialmente, pelas obras e estudos que se interpenetram e deixam evidente a diversidade conceitual e material que permeia toda a obra de Athos Bulcão.
Oferecendo ao público a possibilidade de uma mirada para um recorte do legado singular do artista, sua história e sua contribuição inestimáveis à cultura brasileira, a mostra propõe um sobrevoo sobre a produção de Athos Bulcão – que abrange desde monumentais intervenções na arquitetura até a confecção de delicados desenhos e pinturas – e intenta deixar manifesto o quanto, ao longo de todo seu percurso, o artista mostrou-se capaz de transitar de forma fluida pelas diversas vertentes artísticas e ainda se manter consistente nessa diversidade.
Ao evocar a trajetória de Athos Bulcão como a de um criador que seguiu adensando gradativamente, tanto no ateliê quanto no espaço urbano, o núcleo artístico que particulariza o conjunto de seu trabalho, esta mostra oferece-nos a chance de refletir sobre a obra de um artista singular que se manteve em seu curso processual sem qualquer inscrição específica e levou ao limite a potência poética característica de cada um dos diferentes meios técnicos de que se utilizou.
André Severo
Criação é perspectiva, panorama, ponto de vista, modo de análise, horizonte. Ao longo de toda a sua longeva e proficiente trajetória criativa, a poética plural de Athos Bulcão materializou-se de distintas formas e a partir de diversos modos de expressão. A grande (em escala e extensão) parcela de sua obra que se desenvolveu em direta interlocução com a arquitetura e o ambiente urbano foi, no entanto, a que revelou a ampliação mais evidente dos horizontes de sua potência artística.
Reintegração da origem com o originado, do todo com a parte, da previsibilidade com a entropia: transposta para a contextura do arquitetônico, o trabalho de Athos Bulcão ganhou escala monumental e ultrapassou o âmbito mais frequente de instauração de uma relação entre a obra e o espectador. Permitindo ver além, ampliando o ambiente, desobstruindo o espaço que a vista abrange, transformando os observadores (e muitas vezes também aqueles que participavam da confecção do trabalho) em partícipes, grande parte de sua obra de associação entre a arte e a arquitetura foi materializada no espaço urbano, tornando-se uma via para nos descortinar uma outra dimensão de compreensão da relação entre a criatividade e seu ambiente imediato de inscrição.
Construções, montagens, geração, renovação: em sua obra inter-relacionada com a arquitetura, Athos Bulcão foi um artista que não somente se comprometeu com o projeto ou que acatou as exigências dos arquitetos com os quais trabalhou, ele foi também um criador que se manteve poética e filosoficamente engajado com a ampliação da percepção do espectador e, consequentemente, com a recepção da obra de arte no entorno cotidiano. De fato, desde sua primeira colaboração com Oscar Niemeyer (a partir da qual se seguiram parcerias com outros importantes arquitetos brasileiros como Sérgio Bernardes, Glauco Campello, Sérgio Parada, Ítalo Campofiorito e, especialmente, João Filgueiras Lima), o artista não apenas procurou estabelecer uma relação de evidente colaboração criativa – na qual trabalhava em função do ambiente proposto pelo arquiteto (valorizando e intensificando a presença e a força do projeto) –, como também acabou por demonstrar um entendimento complexo e inovador dos encargos da intervenção artística na obra arquitetônica.
Arte da vinculação, poética da justaposição, arquitetura da imaginação: é quase consenso que o grande feito do trabalho que Athos Bulcão desenvolveu em direta interação com o arquitetônico é que se trata de uma obra que não pode ser diferenciada da paisagem urbana na qual se insere. Não há controvérsia. Entretanto, mesmo sendo vista como parte inseparável dela, acredito que a projeção – sobreposição, aplicação, composição – do trabalho do artista na arquitetura vai ainda mais longe. Trata-se, sem dúvida, de uma intervenção criativa que se amalgama ao projeto, mas também de uma obra que faz o ambiente expandir-se, que faz a construção respirar, que opera deslocamentos inusitados de sentido e faz aparecer um universo de significações que se ampliam para muito além das superfícies em que se inscrevem – revelando, em última instância, que imanência e transcendência podem também ser experienciadas como uma consequência inevitável da reiteração da perspectiva poética no campo arquitetônico.
Ação e efeito da criação, extensão e compartilhamento da ação: em sua grandiosa obra urbana (realizada majoritariamente em Brasília, mas também no exterior e em outras cidades brasileiras) Athos Bulcão subverteu, efetivamente, a noção do artista como um mero colaborador a serviço do desenho arquitetônico. Foram diversas as experiências e os contextos que produziram neste artista – que encontrou na azulejaria sua expressão pessoal mais significativa – uma familiaridade ímpar com o urbano. Em um momento de grande efervescência da arte moderna no Brasil, utilizando um diversificado repertório de materiais (como cerâmica, madeira, fórmica, ferro, vidro, mármore e concreto), a reavaliação que Athos Bulcão fez da utilização do azulejo em relação à herança cultural portuguesa foi simbólica e fez com que ele transformasse fachadas, empenas, painéis, divisórias, paredes e muros – superfícies pouco interessantes e que eram, muitas vezes, enclaves para os arquitetos – em obras de arte estatuídas a partir de relevos, cores, contornos, justaposições e disrupções a serem compartilhadas, sem nenhuma mediação, com o observador.
Realidade, aparência, precipitação: considera-se que quando nos encontramos aquém do horizonte da linguagem estamos presos. Todavia, a capacidade de criar padrões, de justapor cores, de transpor linguagens, contextos e materiais que Athos Bulcão realizou ao longo de sete décadas de incessante produção, dá-nos sinais das inúmeras possibilidades de ampliação da comunicação a partir do fazer criativo. Através de uma obra monumental, que os discursos parecem não poder alcançar sem o risco de serem anulados pela contradição, a poética de Athos Bulcão oferta-nos novas e possíveis alternativas de entendimento da arte, da arquitetura e da vida: o espaço irrompe no tempo, a ideia funde-se ao indivíduo, o espiritual consolida-se no material – a imaginação do artista liberta todos os pares de opostos que os contextos filosóficos, antropológicos, sociais e políticos por vezes antepõem.
Marília Panitz
O século de Athos aponta para um enorme reconhecimento de sua obra (no que diz respeito especialmente à cidade que adotou, Brasília) e, talvez, a um desconhecimento na mesma dimensão. Sua presença no mundo é iminentemente discreta. Ele produz sua arte e a expõe – na galeria ou no espaço urbano –, mas sua atitude é silenciosa. O trabalho impõe-se pela singularidade, exercendo clara influência sobre artistas que se formaram depois dele.
Em suas primeiras pinturas, dos anos 1940 até o início dos 1960, figura um estranho cortejo carnavalesco de formas quase esquemáticas, com suas fantasias que remetem muito mais aos carnavais venezianos de antigamente do que à festa tipicamente carioca do começo do século XX. É contemporânea dos carnavalescos uma obra que se encontra na Catedral de Brasília, A Vida de Nossa Senhora, que apresenta o mesmo uso da cor e da composição. E aí está a beleza da arte, onde o sagrado e o profano aproximam-se em uma mesma experiência estética. Essa liberdade permite que o artista proponha novos espaços e novas vestimentas para a prática litúrgica, nem sempre bem compreendidas.
Os anos 1950 também nos trazem suas fotomontagens, de viés surrealista. Essa criação adquire outra dimensão quando vista sob a perspectiva de distintos artistas pesquisadores da fotografia, da mesma época, como Geraldo de Barros e José Oiticica Filho. Cada um em sua linha de trabalho – que oscila entre um pensamento construtivo e o da desconstrução, operada especialmente pela postulação dadaísta – cria um universo constituído pela articulação entre elementos díspares e a unidade construída pela justaposição de imagens e formas na mesa de trabalho, com tesoura e cola, dentro da sala de luz vermelha. O artista dá nomes-narrativa para muitas de suas fotomontagens, nomes-convite à deriva, que nos capturam para dentro de suas foto-filmes, como ensina Serguei Eisenstein.
O abandono da figuração por Athos deu-se de forma gradual e com uma independência que não permite sua inclusão entre os movimentos abstracionistas articulados no final dos anos 1940, no Brasil. A partir dos anos 1960, quando estava no auge de sua parceria com Oscar Niemeyer, e até a virada do milênio, sua pintura vai abandonando a figuração e depois também a geometria, transformando sua poética com formas orgânicas e flutuantes de extremo lirismo. No plano de fundo, campos de cor com contornos claramente definidos. Sobre ele, outro plano reticular: pontos expandidos em pequenas formas, geralmente circulares, algumas delas abrigando um (semi)alfabeto inventado e outras pequenas cruzes, estrelas. Na sobreposição de círculos, tudo vibra e exige um jogo de foco entre os dois planos. Pura e bem-vinda vertigem.
De formação modernista, cujo compromisso com a originalidade e a criação do novo é condição da experiência artística, Bulcão permite-se incorporar a apropriação como método de trabalho. Em muitas peças, ele recorre às referências de seus pares, ou de manifestações culturais de tempos imemoriais. Este é o caso das Máscaras, que manifestam sua metodologia de forma exemplar e são um amálgama (inclusive matérico) de experiências diversas com a visualidade. Criam certa arqueologia peculiar, onde aparecem fragmentos de sua memória organizados em indícios de referências. Vistas em conjunto, elas poderiam formar seu pequeno e idiossincrático Museu do Homem. Há uma aposta na feiura, na abjeção. Mas elas são estranhamente lindas, desejadas.
No fim da vida, Athos volta às suas fantasias com a cor, em uma luta contra os estragos que o mal de Parkinson fazia em sua habilidade motora. Seus desenhos dessa época – em torno de nossa mais importante festa profana – evocam muito da antiga figuração produzida por este artista tão identificado com certa abstração geométrica, ao mesmo tempo rigorosa e subversiva. Os carnavais inauguram e encerram o extenso período da produção imagética de Bulcão.
Nascido no bairro carioca do Catete em 1918, Athos seguiu o roteiro obrigatório daquela época para jovens ricos ou da classe média, estudar Medicina ou Direito. No seu caso, ficou com a primeira opção, mas abandonou o curso em 1939 para se dedicar à arte e foi estudar em Paris. Viveu na França até 1949. No retorno ao Brasil, Athos trabalhou como ilustrador e artista gráfico no Ministério da Educação e mais tarde passou a colaborar em projetos do arquiteto Oscar Niemeyer, com quem fez parceria nas obras de construção de Brasília e também com o premiado arquiteto João Filgueiras Lima.
Em 2018, uma grande exposição em Brasília foi organizada para marcar os 100 anos do fantástico artista, que teve a capital da República como o principal cenário de suas obras. Com a pandemia de covid-19, a itinerância da mostra por outras cidades foi suspensa. A iniciativa do Farol Santander Porto Alegre traz de volta ao cenário cultural a variada obra de Athos Bulcão, um artista que atravessou o século sempre empolgando o público e os críticos.
Conversa dos curadores com Maria Ivone sobre o processo criativo.
André Severo e Marília Panitz falam sobre a obra de Athos Bulcão
Carlos Lin e o educativo da exposição Athos Bulcão
Valéria Cabral - Athos Bulcão - 1
André Severo - Athos Bulcão - 1
Marília Panitz - Athos Bulcão - 1
Carlos Lin - Athos Bulcão - 1
16/03/2023
21/03/2023
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